quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A grande viagem

        Ponto de ônibus e chuva. Uma combinação perfeita. Lá está Denise, no meio do povo amontoado que tenta se abrigar. Que demora! O serviço deu o cartão-transporte que serve para pegar ônibus, mas no ponto só passou lotação até agora. Gritos interromperam o pensamento da menina:
       _Praia, divisa. Praia, divisa, Praia ? Vai senhora? Praia, praia? Vai morena? Divisa, já tá saindo, já tá saindo...
        Mas, não sai, só fica no está... No mesmo lugar. Ela Acende um cigarro. O ônibus chega. Apaga o cigarro e corre pra conseguir alcançar, já que a droga da lotação não saiu.
        O ônibus se transformou em lotação... Assim de gente, ó! Um zoológico humano. O efeito estufa está preso na condução. Quente, quente... Ela vai se espremendo no meio do povo. Silêncio interrompido. Dessa vez, um moleque danado, ouvindo no celular algo que ele chama de música: 
        “Tchuthuca vai descendo até embaixo. Tchuthuca vai subindo até em cima” 
         Denise se pergunta por que a senhorita Tchuthuca não poderia descer pra cima ou subir pra baixo. O moleque faz questão de compartilhar seu “excelente” gosto musical com os passageiros, talvez para mostrar a potência do celular que roubou de alguém.
         Engraçado como as pessoas que conseguiram um espaço no assento reservado para os idosos sempre estão dormindo quando os velhinhos entram. Denise se lembra do filme “Nosso lar”. Não pode deixar de pensar que o coletivo é o Umbral. Mas, ela, uma menina tão boa estaria fazendo o que ali? 
         Janelas fechadas por causa da chuva. Nessas horas adoraria estar gripada. Mas, infelizmente o odor fétido entranha nas suas narinas e faz o Rio Tietê parecer cheiroso diante dos fatos.
         Uma voz fina e aguda vem fazer companhia à Thuthuca Sobe-Desce:
        _Desculpem atrapalhar a viagem de vocês. Meu nome é Washington e estou desempregado.
         A menina não se lembra de ter perguntado o nome do homem.
        _Tenho 3 filhos. Estou doente, fui despejado, minha mulher me largou, meu filho não anda      
         Denise já ouviu essa fala em algum lugar. (Talvez na novela “Maria do Bairro”)
        _ Estou pedindo a colaboração de vocês para levar um leitinho para meus filhos
        Quando o pai de Denise ficou desempregado ninguém colaborou, ela era pequena e ficou sem o leitinho... Será que o pai deveria ter pedido um copo de leite no ônibus?
         Poucas pessoas estendem uma moeda para o homem que desce praguejando:
        _Povo pão duro, morto de fome...
        Alguém pergunta:
        _Esse ônibus vai pela praia?
        O motorista irônico faz uma piadinha:
       _Não. Vai pela calçada.
        Mau humor. O passageiro não gostou da brincadeira, soltou um palavrão. O motorista revoltado, parou o ônibus para discutir com o homem.
        _Vamo Motô. Tenho pressa.
        _Se tem pressa compre um carro.
         O semáforo estava verde.  A lotação do começo da história tinha que recuperar o tempo perdido e estava em alta velocidade. Estrondo. Uns caindo por cima dos outros. Bateu.
        _Desce todo mundo!!!
        Agora o “barraco” é geral... E a chuva caindo! E a rua inundando
       _Talvez seja melhor ir de barco.
         Depois de alguns trechos da aventura se repetirem no novo ônibus, ela consegue chegar em casa e ouvir a mãe perguntar:
       _Onde você estava até uma hora dessas? Eu aqui dando um duro danado e você passeando por aí....

10 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk gostei muito Carol , que imaginação fértil...
    Escreva outros !
    Amei o seu blog.
    Beijos

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  2. Interessante como a realidade pode ser engraçada e triste. Maravilhosa sua crônica, vc realmente escreve muito bem, e a idéia é ótima!

    Sei que sou suspeito, mas é sincero o comentário =)

    Bjo linda!

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  3. Que Caótico...muito bom Carol
    Muito criativa você...gostei muito,um misto de realidade e humor - cena típica de centro grande ...bem longe de minha realidade que moro numa cidadezinha de 39.000 habitantes...rsrsrsr
    Bjokas
    Escreve...mais...adoreiii

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  4. Ei!
    E exatamente assim que vejo a vida...
    como dizia Nelson Rodrigues sobre a vida como ela é:Pelo buraco da fechadura...
    só que nós,
    somos o meio por onde a vida passa e flui.
    Ha os nnem se dão conta desse universo.
    Sou como sua personagem:absorvo tudo ao redor.As vezes chego em casa fracassada
    ao ver uma mae deixar o filho quase morrer atropelado ou ao ver
    alguem na rua tratar tão bem um animal,mas nem se importar
    se um se hu mano tombou a seu lado
    de fome...
    Mas chego em casa vitoriosa
    quando
    vejo um catador de papelão
    dividndi sua quentinha com o duque, seu cao e amigo fiel.
    São dois seres honrados com a companhia
    um do outro.
    Adoro sua plastica ao escrever.
    Bjins entre sonhos e delirios

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  5. É esse o dia a dia de caos na cidade grande e a agonia daqueles que precisam utilizar transporte coletivo. Será que isso muda um dia? Gostei muito do humor empregado na crítica, que transformou a situação em algo leve e engraçado.
    Até a próxima!

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  6. Puxa vida Fofa... Você escreve muito bem sim. Seu blog é muito bonito e é do jeito que eu gosto semaquele moooooonte de frescuras espalhadas pela tela.
    Parabens! Vou seguir.

    Quanto ao texto... menina, ainda bem que aqui no interior vc pode escolher o banco que quer sentar no ônibus, hahahaha.
    Só uma coisinha, coloca nocomeço do texto ao invés de "Ponto e chuva", "Ponto de ônibus e chuva", acho que assim o leitor já entra no clima lógo na primeira frase.

    Um beijão!

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  7. Muito bom.........
    É a grande realidade para quem anda de transporte publico o que Denise passou muitos passam todo dia..........muito humor.......bacana a sacada.....
    obs : voce escreveu no onibus???? rsrsrsrsrs
    bj...............

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  8. Olá Fofa!!

    Querida, sinceramente MUITAS vezes já passei pela mesma situação da Denise e consegui imaginar-me no lugar dela durante todo o texto!rsr

    Você tem uma coisa deliciosa de se ler, transporta o leitor pra dentro do seu texto!!

    Ah, e Cleiane Oliveira sou eu..rsrrs, mas ultimamente não ando prestando para nada!rsrsr

    Beijos lindona, te sigo!

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  9. FOFAAAAAAAAAAAAA,
    O que é isso ????
    A minha história quando estou pelos pontos de onibus da sua cidadezinha ??? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Achei barbara sua crônica , exatamente como acontece , me senti a própria Denise.
    Amei !!!!
    Beijos...

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  10. os fatos aqui postados serão mera coincidência com a vida real?

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